segunda-feira, 28 de julho de 2014

Uma estúpida complacência

Terêncio

Sou humano; nada do que é humano me é estranho. (Terêncio)

Será ainda sinal de humanidade a estranheza por tudo aquilo que é humano? Serei ainda humano quando sinto repugnância por aquilo que é humano, demasiado humano? Como se pode suportar a exibição sem pudor  da sua hipotética felicidade ou a proclamação da grandeza da descendência - isto, quando não se tem ascendência para exibir ou obra para suportar a vaidade? O mais repugnante, porém, é o disfarce em convicção daquilo que se prende apenas com o mero interesse. Olho para os homens, e por cada grama de nobreza vejo toneladas de lixo. Sim, também pertenço aos que fazem lixo. Mas - e disso tenho consciência - o lixo feito por mim não deixa, por isso mesmo, de ser insuportavelmente repulsivo. Medito na frase de Terêncio e vejo nela a mais estúpida complacência com tudo aquilo que nos deveria causar o mais profundo asco. Refaço a frase: Sou humano; tudo o que é humano me é, cada vez mais, estranho.

4 comentários:

  1. Não vou ironizar, mas creio que Darwin ficaria perplexo se pudesse constatar o "salto" recente na evolução humana.

    Um abraço

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    1. Curiosamente, evolução pregada em nome de um suposto darwinismo, agora aplicado à concorrência social e mercantil.

      Abraço

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  2. Seria bom que nos confrontássemos com a verbalização e registo escrito dos valores morais que emanam das nossas acções.
    Somos humanos e como tal intrinsecamente frágeis, falíveis e finitos.

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    1. A fragilidade e a falibilidade humanas nascem da finitude. Talvez muitos comportamentos humanos, demasiado humanos, nasçam da tentativa desesperada de mascarar essa finitude. Seja como for, a experiência da nossa humanidade deveria conduzir-nos a aspirar a um estranhamento relativo à nossa humanidade. Assim, talvez nos tornássemos não direi mais humanos mas melhores pessoas.

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