Alfonso Parra Domínguez - Realidad dialéctica (1977-1978)
Robert Nozick dirá pouco a muita gente. Se se quiser, porém, uma fundamentação filosófica do liberalismo radical (aquilo que na gíria política de esquerda dá pelo nome de neoliberalismo) então dever-se-á ler o seu importante ensaio, de 1974, Anarquia, Estado e Utopia, onde se encontrará uma defesa consistente do estado mínimo. Esta obra, a única que Robert Nozick escreveu na área da filosofia política, tornou-o muito conhecido na esfera da filosofia política, mas acabou por colocar na sombra todo o seu restante trabalho. Ora tendo recebido hoje The Nature of Rationality, uma reflexão sobre a razão prática datada de 1993, abri o livro e comecei a ler a Introdução.
É logo no primeiro período do texto que Nozick sublinha o equívoco presente nesse estranho empreendimento a que se dá o nome de filosofia. Escreve ele assim: A palavra filosofia significa amor da sabedoria, mas aquilo que os filósofos realmente amam é argumentar. E, para que não restem dúvidas, termina o primeiro parágrafo com a seguinte asserção: Proclamações ou aforismos só são considerados filosofia se contiverem e delinearem argumentos.
E nisto resume-se o equívoco que arrasta muita gente para o campo da filosofia. Um desejo de alcançar a sabedoria num lugar onde se cultiva a paixão pela argumentação e o prazer da dialéctica. O desejo da sabedoria tem em vista a descoberta do caminho para uma vida boa e digna de ser vivida. Aquilo que a filosofia tem para oferecer é, porém, muito mais modesto: a capacidade de argumentar na defesa de certas opções e de contar-argumentar outras. Este treino dialéctico, fundado no uso válido da nossa razão, acaba por nada nos dizer sobe esse bem que faria da minha vida uma vida boa. Se alguém pensar que encontra na filosofia um caminho de salvação, então que se desengane. Ali é um lugar de paixões, de paixões por argumentos e contra-argumentos, de paixões pelo uso da razão, e não há nada como a paixão para levar os homens à perdição, como muito bem se sabe.
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