Nicolas Poussin - Midas e Baco (ou Diónisos) (1625)
Quase por toda a parte, estas festas tinham no centro um terrível frenesim sexual, cujos fluxos faziam submergir toda a instituição familiar e as suas regras mais veneráveis; nelas se desenfreava a bestialidade mais selvagem da natureza humana até ao ponto de se chegar àquela mistura horrível de prazer e de crueldade que sempre identifiquei como sendo «o filtro das feiticeiras». (Friedrich Nietzsche, A Origem da Tragédia)
Tem se dado pouca atenção, nesta história do auto-proclamado Estado Islâmico, à natureza orgiástica que rodeia a sua acção. Não há nos seus agentes apenas a bestialidade mais selvagem, uma bestialidade que derrama a morte por todo o sítio onde passa. Há também um frenesim sexual consubstanciado na instituição de escravas sexuais ou no cultivo imaginário das orgias futuras que no paraíso esperam os crentes. Esta presença do sexo, do sangue, da violência e da morte é, na prática, um enorme ritual em honra não do Deus das religiões monoteístas mas do velho Diónisos, que parece ter despertado de uma longa letargia. O prazer na morte e a volúpia que parece arrastar tanta gente é um sinal indicador de que o irmão de Apolo acordou e, metamorfoseado, chama os seus adeptos, prometendo-lhes não apenas um paraíso orgiástico no além mas a glória de ser a renovação na Terra, renovação que nasce da submersão de todas as instituições, incluindo as mais veneráveis. Esperemos apenas que o velho Apolo acorde, para que a lei e a ordem voltem ao mundo.
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