Tom Wesselmann - TV Still Life (1965)
Toda a minha vida vivi rodeado de jornais e de informação. Quando
nasci havia a imprensa escrita e as emissoras de rádio. A RTP dava os primeiros
passos em Portugal. A televisão cresceu comigo, diversificou-se, secundarizou
jornais e rádio, viu chegar a internet e o mundo da comunicação e da informação
digitais. Os meios de comunicação foram aumentando e o ruído dessa informação cresceu
à minha volta. Sempre fui condescendente e, por vezes, surpreendo-me com um
espírito de coleccionador de inutilidades.
Na universidade aprendi que Hegel teria dito, talvez no início do século
XIX, que a leitura matinal do jornal é a oração da manhã do homem moderno.
Estaríamos perante uma meditação sobre os caminhos do espírito do mundo. As
possibilidades de oração, de lá para cá, como referi em cima, multiplicaram-se.
Há anos que não compro um jornal de papel, mas tenho quatro assinaturas de
jornais em versão on-line. O problema é que, passadas tantas décadas de
esforçada oração ao espírito do mundo, o deus a que a informação presta culto,
descobri há muito, não é mais do que um ídolo, um ídolo com pés de barro.
Nos últimos tempos, uma voz obscura fala dentro de mim. Não fala,
murmura. O murmúrio que oiço diz-me que é tempo de frugalidade e que não há
maior frugalidade que a pura abstinência. Abstinência significa aqui
libertar-se da tirania da informação, emancipar-se do culto do ídolo mundano. O
ruído constante da esfera pública não é apenas um sinal da crescente – e ao que
parece imparável – poluição espiritual do homem. É o exercício sistemático de
uma ditadura. A ditadura dos media, a
qual deve ser entendida como a tirania da mediocridade. A mediocridade que impõe
as suas regras e lança um véu escuro sobre o olhar dos homens.
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