George Inness - October (1886)
Custa despedir-me de Outubro. Não porque o Inverno se aproxime, mas
porque amo a indecisão deste mês, um mês perdido entre a desmedida exuberância
do Estio e a frugalidade que se aproxima. Ao meu lado só vejo campeões da
decisão, gente de horizontes determinados e de objectivos bem definidos. Gente
que sabe fazer pela vida. Em mim, porém, há uma voz recalcitrante, um murmúrio
vindo de longe que, por vezes, recrudesce e quase grita: para que serve uma
vida reduzida a um projecto, à glória do triunfo dado no cumprimento de objectivos
previamente construídos?
Gosto de Outubro e das cores que ele traz à paisagem. Gosto de Outubro
porque é um mês de queda e de esquecimento. Novembro quase que começa com a
rememoração dos mortos. Ah sim, também tenho mortos a rememorar, mas na verdade
prefiro o esquecimento. Os meus mortos doem-me dentro de mim. Por vezes, a dor
é insuportável e é preciso esquecê-la. Nessas horas, fico a ver as folhas a caírem
das árvores. Um sopro do vento, um leve tremer, e a folha desce, hesitante, e
cai quase silenciosa num chão indiferente. A hesitação das folhas ilumina a
grandeza da indecisão, esse reconhecimento de que não se sabe o que se quer nem
para onde se vai. Despeço-me de Outubro e sento-me no meu escritório. Espero
que a Terra siga o seu destino e me devolva o mês que agora me rouba.
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