Giacomo Balla - Abstract Speed - The Car has Passed (1913)
O discurso da modernização rompe
com uma continuidade histórica, e a forma como o poder é levado a legislar sem
cessar conduz à inversão da função da lei que, longe de ser um factor de
estabilidade, é posta ao serviço de um movimento de adaptação destabilizante.
As exigências da modernização respondem a um movimento histórico que parece
igualmente sem fim. E todos aqueles que fazem valer a sua ligação à herança
cultural, que entendem não se submeter, não adquirem o estatuto de inimigos
objectivo que entravam o movimento [de modernização]? [Jean-Pierre Le Goff, La démocratie post-totalitaire, pp. 23]
O movimento de modernização que atinge os países ocidentais tem duas
características que se devem sublinhar: por um lado, o corte com a tradição,
aquilo que Le Goff chama a herança cultural; por outro, a perversão da função
das instituições tal como o homem as foi criando. Veja-se o caso da lei. Até
aqui, a lei tinha a função de estabilizar a sociedade. Hoje, e o governo
português é apenas um exemplo, a lei serve para criar dinâmicas de ruptura
dentro da vida social. Em lugar da estabilidade, o que se pretende é uma
mobilização sem fim que, aliada ao corte com a tradição, acabe por destruir em
cada homem o significado da sua humanidade. O que está em jogo nos processos de
modernização é apenas e só a destruição da humanidade, a passagem para um tempo
pós-humano. (averomundo, 2008/03/16)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.