segunda-feira, 12 de outubro de 2015

A política como tragédia

Antígona e o corpo de Polinices

Desde muito cedo na minha vida que descobri um interesse especial pela questão política. A princípio foi um interesse ingénuo e vagamente sentimental. Pensava que ela era um sítio de salvação da humanidade ou, talvez, minha. Depois, passado esse período de românticas ilusões, ela interessou-me como elemento de estudo, como matéria de reflexão. Por fim, desde há muito tempo que ela me interessa do ponto de vista estético. Primeiramente, como jogo. Observo com prazer a forma como as diversas peças se movimentam no tabuleiro, como se evitam ou como se enfrentam. Em segundo lugar, como tragédia. Não me refiro à produção de acontecimentos a que a comunicação social chama, indevidamente, tragédia. Refiro-me mesmo à tragédia grega. Gosto de observar como os heróis e as heroínas (os dirigentes políticos) se encaminham, devido à hübris, para a sua própria perdição. E a época política que estamos a viver é fértil em gente sem contenção nas palavras, pronta para se perder. Sinto sempre um estranho arrepio de dor e prazer quando vejo uma Antígona no palco enfrentando o velho Creonte.

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