Antígona e o corpo de Polinices
Desde muito cedo na minha vida que descobri um interesse especial pela
questão política. A princípio foi um interesse ingénuo e vagamente sentimental.
Pensava que ela era um sítio de salvação da humanidade ou, talvez, minha. Depois,
passado esse período de românticas ilusões, ela interessou-me como elemento de
estudo, como matéria de reflexão. Por fim, desde há muito tempo que ela me
interessa do ponto de vista estético. Primeiramente, como jogo. Observo com
prazer a forma como as diversas peças se movimentam no tabuleiro, como se
evitam ou como se enfrentam. Em segundo lugar, como tragédia. Não me refiro à
produção de acontecimentos a que a comunicação social chama, indevidamente,
tragédia. Refiro-me mesmo à tragédia grega. Gosto de observar como os heróis e
as heroínas (os dirigentes políticos) se encaminham, devido à hübris, para a sua própria perdição. E a
época política que estamos a viver é fértil em gente sem contenção nas palavras,
pronta para se perder. Sinto sempre um estranho arrepio de dor e prazer
quando vejo uma Antígona no palco enfrentando o velho Creonte.
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