Florian Schmidt, Turn
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Há muito tempo que perdi qualquer ilusão sobre a melhoria do
sistema educativo português. Os motivos são vários. Há uma cultura dos alunos
adversa à aprendizagem escolar, há um retrocesso no formação dos professores
relativamente às décadas de oitenta e noventa do século passado e há também um
problema com as famílias que ora são desatentas ao percurso dos seus filhos, ora são factor de perturbação, devido a uma hipertrofia da sua presença
nas escolas, quase sempre de forma enviesada. Estes factores, porém, não são o
cerne do problema.
O problema reside na bipolaridade política (e aqui estou de
acordo com Santana
Castilho) que tornou o sistema absolutamente ingovernável. Depois de um
consenso inicial nos anos noventa, consenso esse gerador de um grande entusiasmo,
a ressaca dos aspectos utópicos gerou dois campos antagónicos que colonizam a
educação com os seus devaneios ideológicos. Poderíamos dizer que estamos
perante duas utopias. Uma utopia de direita baseada na idealização de uma
escola do passado e num rigor que nunca existiu. Uma utopia de esquerda fundada
numa perfectibilidade de professores e alunos a ser atingida no futuro que
nunca virá.
Ambos os lados fogem do presente, isto é, da realidade. Dos professores
que existem, dos alunos que estão nas escolas, das famílias que solicitam os
serviços de educação. Eu sei que a mesma realidade pode ter leituras diferentes.
No entanto, se ambos os lados olhassem para a realidade talvez houvesse margem
de manobra para se chegar a consensos que evitassem a maluquice em que as
escolas vivem ano após ano. Muda o governo e tudo tem de mudar no sistema educativo. Já
chega. A soma de várias utopias gerou uma escola completamente distópica. É tempo de mudar de página. São precisas mudanças, claro. Mas elas têm de ser consensualizadas, caso contrário o inferno não terá fim.
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