quarta-feira, 21 de março de 2018

Alma Pátria - 21: Luís Cília - Canto do Desertor



A pátria, in illo tempore, tinha uma alma oculta, uma alma que não podia manifestar-se na rádio e na televisão portuguesas, mas manifestava-se, por exemplo, na televisão francesa. Era uma alma recalcada. A voz de Luís Cília - não é uma voz extraordinária, mas é uma voz de que gosto bastante pelo seu timbre nostálgico e, diria, quase sebastianista - era uma das vozes dessa alma abscôndita, que atravessava o país pelo silêncio da noite. Aqui canta uma canção contra a guerra colonial. O tema, a deserção, ainda gera incómodo – a palavra traidor aflora então com facilidade – em alguns sectores mais nostálgicos do antigo regime ou menos conformados com os que, perante a guerra, decidiram refugiar-se no estrangeiro. A generalidade do país não tem, todavia, qualquer ressentimento perante os que desertaram. O original em disco é de 1964 e a gravação que se apresenta é de 1973. Pelo que se percebe da imagem da capa, no canto superior direito, o disco foi editado pela célebre Le Chant du Monde, uma editora discográfica francesa claramente engagée.

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