Quinta-feira de
Endoenças
O lívido lençol da morte tece-se de silvas e sangue,
rumoreja na sombra como um anjo ávido de luz
preso a uma geometria de água e crepúsculos.
Eis que sobre o mundo desce a voz primitiva
e trauteia na proximidade do grande momento,
a época de maturação do fruto ferido da figueira.
Os convidados da última ceia dançam e cantam,
em sono e alucinação imersos, e distante
se turvará o tilintar das trinta moedas da traição.
As crinas do cavalo da morte avistam-se ao longe,
oscilam ao vento, enquanto na páscoa dos judeus
o filho do homem espera o pão ázimo do incêndio.
Vejo na vigília da verdade a rosa do vale de Cédron.
O horto das oliveiras, sangue e suor, lágrimas de
luz como pétalas de âmbar sombreadas na solidão.
Março, 2018
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