quinta-feira, 8 de março de 2018

Da divina imobilidade

Deborah Turbeville

Tudo o que a fotografia nos dá a ver, naqueles corpos femininos, obedece a uma rigorosa coreografia. O que se revela ali, de forma completamente inusitada para um trabalho de moda, é a essência da dança. Essa essência não reside no movimento mas na pura imobilidade. A fotografia de Deborah Turbeville (não apenas esta, mas a sua obra em geral) capta o carácter divino dessa imobilidade. Estamos sempre perante uma representação politeísta do motor imóvel, do Deus de Aristóteles, esse Deus que move o mundo pelo desejo. O movimento, que por equívoco pensamos ser a matéria da dança, não é então outra coisa senão o desejo que a imobilidade desencadeia nos corpos até que estes atinjam, ao saciar-se no ritmo, o seu estado de perfeição e se tornem, como estátuas, imóveis.

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