Marc Chagall, A revolução, 1937
O artigo de David Dinis sobre as alianças à esquerda refere
o óbvio. No entanto, aquilo que é óbvio perde muitas vezes o essencial. O texto
diz “ O PCP é diferente (do BE): já só espera a oportunidade para saltar para as ruas, que é onde está a alma do comité central — e a razão da sua subsistência.” Não é que o PCP não goste de
rua, mas, muito provavelmente, o PCP conseguiria melhores resultados eleitorais
se estivesse no governo do que estando apenas na rua. Duvido que o PCP precise
para subsistir de estar sempre na oposição, mas o regime democrático, tal como
foi desenhado, em 25 de Novembro de 1975, precisa do PCP na oposição. Um PCP na
rua, com as suas bandeiras, manifestações e greves, é um seguro de saúde do
regime.
O governo de Passos Coelho, por exemplo, deve muito ao PCP.
Este canalizou, de forma legal, ordeira e disciplinada, a contestação às
tropelias da troika e do governo.
Essa contestação não teve nenhum impacto na diminuição das tropelias mas evitou
que emergissem formas de contestação erráticas, anarquizantes, imprevisíveis e,
por isso mesmo, perigosas. Aquilo que se passou nos anos da troika já se tinha passado
anteriormente. Não será tanto o PCP que precisa da rua, embora goste muito
dela. São os partidos do regime que precisam do PCP na rua. Quando tudo corre
bem, o PCP parece não ter papel algum na democracia, mas quando chega o tempo
das vacas magras, o que é recorrente neste país, o regime inteiro precisa do
PCP para que as energias negativas sejam canalizadas ordeiramente. Veja-se a
confusão que aconteceu em Espanha, França e, sobretudo, Itália com o
desaparecimento dos velhos Partidos Comunistas. Perderam o seguro de saúde com as consequências que todos conhecemos.
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