Pedro Proença - Argumentação fantasiosa (1995)
Toda esta discussão - toda esta bavardage - que ocupa a esfera pública está dentro daquilo a que, por motivos bem diferentes, John Rawls chama o véu da ignorância. As partes em confronto julgam possuir uma fórmula, talvez o cálculo de probabilidades, para fundar as suas palavras sobre o que vai acontecer. Mas aquilo que o futuro nos reserva é incerto, está coberto por esse véu que nada deixa ver e nada deixa saber. Os actores políticos, económicos e sociais, os meros cidadãos que, como eu, tomam posição deveriam, em última análise, estar em silêncio. Esse silêncio não significa falta de interesse pela vida em comum nem uma tentativa de ocultar os problemas. Tão pouco significa medo perante aquilo que o tempo nos destina pelo entretecer das acções humanas e dos factores naturais.
Significa outra coisa. Os actores mais empenhados falam como se estivessem dentro de uma lógica do risco. Quando se fala de risco estamos já num certo domínio da racionalidade, onde o cálculo das probabilidades permite domar os perigos que toda a acção traz consigo. Mas será esse tipo de relação que temos com o mundo? Pergunto-me, muitas vezes, o que esconde toda essa bavardage na esfera pública. A resposta é sempre a mesma: o medo. Os actores, fundamentalmente, os responsáveis, aqueles a quem cabe tomar decisões, estão em pânico. A conversa tola, os discursos sem fim que fazem chegar ao mundo escondem o medo. Medo de quê? Medo de que a realidade não seja domesticável segundo uma teoria do risco, que nenhum cálculo de probabilidades seja razoável, medo que o futuro esteja liberto para tomar o caminho que entender, independentemente das decisões que tomamos.
O silêncio significaria, então, o reconhecimento disso mesmo e mostraria a coragem de olhar a incerteza de frente. Estes são tempos de profunda incerteza, onde nem o cálculo de probabilidades consegue domar e racionalizar o que vem aí. O silêncio seria a oportunidade para perscrutar o horizonte que se aproxima. Mas cegos, nunca nos calamos, enquanto o medo cresce e de tudo e de todos toma conta. Os diálogos, as controvérsias, todas essas proclamações inúteis, não passam de fantasias argumentativas, subreptícias confissões de que nada se sabe e de que se teme tudo o que está para vir.
Significa outra coisa. Os actores mais empenhados falam como se estivessem dentro de uma lógica do risco. Quando se fala de risco estamos já num certo domínio da racionalidade, onde o cálculo das probabilidades permite domar os perigos que toda a acção traz consigo. Mas será esse tipo de relação que temos com o mundo? Pergunto-me, muitas vezes, o que esconde toda essa bavardage na esfera pública. A resposta é sempre a mesma: o medo. Os actores, fundamentalmente, os responsáveis, aqueles a quem cabe tomar decisões, estão em pânico. A conversa tola, os discursos sem fim que fazem chegar ao mundo escondem o medo. Medo de quê? Medo de que a realidade não seja domesticável segundo uma teoria do risco, que nenhum cálculo de probabilidades seja razoável, medo que o futuro esteja liberto para tomar o caminho que entender, independentemente das decisões que tomamos.
O silêncio significaria, então, o reconhecimento disso mesmo e mostraria a coragem de olhar a incerteza de frente. Estes são tempos de profunda incerteza, onde nem o cálculo de probabilidades consegue domar e racionalizar o que vem aí. O silêncio seria a oportunidade para perscrutar o horizonte que se aproxima. Mas cegos, nunca nos calamos, enquanto o medo cresce e de tudo e de todos toma conta. Os diálogos, as controvérsias, todas essas proclamações inúteis, não passam de fantasias argumentativas, subreptícias confissões de que nada se sabe e de que se teme tudo o que está para vir.
Hum...os deuses deveriam mandar-nos calar, então...chiu!!! Um grande «chiu», igual ao que existe no espaço sideral. Porém os deuses, como os anjos, há muito que deixaram de falar connosco, não por culpa deles, não...fomos nós que interrompemos a chamada.
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