quinta-feira, 10 de maio de 2012

Missa Pro Defunctis (V)


5. Sequentia: i. Dies Iræ

Carros calcinados pela estrada
e buganvílias secas no deserto.
Uivam lobos na floresta,
e um cântico severo desprende-se
do paraíso incendiado pelo dia.

Mulheres dançam nuas,
dançam cansadas de dançar,
dançam de seios caídos,
de braços moles a fraquejar.
Gritam sonâmbulas pelas ruas
e riscam as paredes de sangue,
do sexo cai sem parar.

Rebanhos mortos suspensos
nos semáforos da cidade
indicam o caminho do mar.
Balem ovelhas ao som da noite
e mesmo mortas têm
um sopro de vida para cantar.

Tudo treme na clara manhã,
a noite recolheu-se em negro véu,
e o sol manifesta os escombros
com que a vida ao viver se deu.
Tudo treme na voz silenciosa,
que na viagem começada
se ergue no horizonte da terra,
branca bandeira sediciosa.


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Missa Pro Defunctis é um ciclo de poemas escrito em Setembro e Outubro de 2011. É constituído por 21 poemas e pretende ser uma meditação poética sobre a nossa situação actual, meditação que acompanha a estrutura de um Requiem na tradição religiosa católica. Será publicado integralmente neste blogue nos próximos tempos, embora sem periodicidade diária ou qualquer outra.

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