5. Sequentia: i. Dies
Iræ
Carros calcinados pela estrada
e buganvílias secas no deserto.
Uivam lobos na floresta,
e um cântico severo desprende-se
do paraíso incendiado pelo dia.
Mulheres dançam nuas,
dançam cansadas de dançar,
dançam de seios caídos,
de braços moles a fraquejar.
Gritam sonâmbulas pelas ruas
e riscam as paredes de sangue,
do sexo cai sem parar.
Rebanhos mortos suspensos
nos semáforos da cidade
indicam o caminho do mar.
Balem ovelhas ao som da noite
e mesmo mortas têm
um sopro de vida para cantar.
Tudo treme na clara manhã,
a noite recolheu-se em negro véu,
e o sol manifesta os escombros
com que a vida ao viver se deu.
Tudo treme na voz silenciosa,
que na viagem começada
se ergue no horizonte da terra,
branca
bandeira sediciosa.---------
Missa Pro Defunctis é um ciclo de poemas escrito em Setembro e
Outubro de 2011. É constituído por 21 poemas e pretende ser uma meditação
poética sobre a nossa situação actual, meditação que acompanha a estrutura de
um Requiem na tradição religiosa católica. Será publicado integralmente
neste blogue nos próximos tempos, embora sem periodicidade diária ou qualquer
outra.
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