A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
Anda meio mundo ufano com a vitória de Hollande em França. Não é má
notícia, mas os portugueses tirariam maior proveito em estudar o caso grego. A
França pertence ao centro da Europa, a um universo do qual não fazemos parte, a
não ser como fornecedores de mão-de-obra. As coisas são o que são. A Grécia é
como nós um país periférico e do Sul, um país que percorreu mais depressa o
calvário da dívida e das políticas de austeridade.
A primeira lição é a da fragmentação do corpo eleitoral. Menos de um
terço dos eleitores (e só 65% votaram) deram o seu voto aos dois partidos do
arco governativo. O sistema político grego tornou-se muito complexo, com 32
partidos a concorreram às eleições e sete a elegerem deputados (ainda três a
ficarem à porta do parlamento). A diferença entre o partido mais votado e o que
elegeu menos deputados não chega a 13%. A tradicional divisão esquerda e
direita tomou contornos novos e mais complexos, onde a divisão pró-troika e contra-troika tem um papel importante, a que se adiciona a divisão entre
pró-europeus e contra-europeus. Um panorama bizarro.
A segunda lição diz respeito ao crescimento dos extremos. O partido de
extrema direita, Aurora Dourada, que em 2009 valia 0,29% vale agora 6,97% e 21
deputados, e faz já troar a voz e as botas cardadas. Surgiu uma nova
organização de direita anti-troika
com 10,6% e a esquerda à esquerda dos socialistas, três partidos, vale agora
31,37% (em 2009, valia 12,14%), quase tanto como os partidos da governação, que
passaram de 77,4% dos votos para 32%. A situação grega é perigosíssima para os
gregos e para a Europa. À fragmentação política adiciona-se uma fractura no
consenso global necessário para o funcionamento da democracia.
A terceira lição liga-se às causas da implosão. Os gregos perceberam
que as elites governantes, de direita e de esquerda, foram absolutamente
irresponsáveis, ao conduzirem a situação política e económica a um beco sem
saída. Este panorama recebeu, porém, a pior das respostas: a penalização moral
dos gregos através do empobrecimento abrupto das populações. A Grécia, como
Portugal, precisa de rigor na gestão das contas públicas. Mas esse rigor
precisa de tempo para que a alteração das políticas não signifique uma
catástrofe inominável. A política de austeridade forçada significou que esse tempo
não foi dado aos gregos nem a nós. A catástrofe grega já chegou. Esperemos que
as eleições na Grécia ensinem alguma coisa à União Europeia e ao governo
português, adepto incondicional da austeridade e do rápido empobrecimento dos
portugueses.
Não posso estar mais de acordo com o que acabo de ler e o meu maior medo no momento é que Portugal é o próximo alvo a abater. Como já li hoje, se a Grécia sair do Euro, irão descer os ratings de outros países da zona euro, com Portugal na linha da frente. Temo uma catástrofe também a Ocidente.
ResponderEliminarSim, A Europa está, há muito, a caminhar para uma catástrofe. O pior é que não se vê nenhum projecto que mobilize os europeus para evitar o que se aproxima.
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