sexta-feira, 4 de maio de 2012

A força do destino



No passado dia um de Maio, Passos Coelho pediu aos portugueses para se prepararem para viver com um desemprego superior ao habitual. Alguma coisa mudou na política. Antigamente, os governos eram julgados pela capacidade de enfrentar o desemprego e encontrar soluções para ele. Hoje em dia, pelo menos em Portugal, o governo não quer ser avaliado pelo seu desempenho e, em vez de resolver o problema do emprego, apresenta-o subliminarmente como se fosse uma coisa imposta pela força do destino.

Percebe-se a mensagem. Se é o destino que nos traz o desemprego, como posso eu, Passos Coelho, ser responsável pelo destino? O primeiro-ministro lida mal com a realidade e com o resultado das suas opções. Do ponto de vista político, é um mentiroso compulsivo, pior que os anteriores, e estes eram já bastante maus. Quando fez a campanha eleitoral criticou o que Sócrates fez e prometeu fazer diferente. No entanto, violou todas as promessas e optou por um caminho idêntico ao de Sócrates, mas mais radicalizado. Dizem os adeptos da seita que ele desconhecia a realidade. Se é verdade, não se compreende por que razão um incompetente, que nem a realidade do país conhecia, deve governar. Se é mentira, então o melhor é os cidadãos deixarem de votar.

Passos Coelho sabe muito bem que o desemprego é o resultado das políticas que ele apoia na Europa e que pratica em casa. Não é o fruto de um destino maléfico que caiu sobre nós, mas de opções que visam deliberadamente empobrecer a generalidade da população e enriquecer uma elite voraz, uma elite que, sem a ameaça do comunismo, tem por objectivo reduzir a generalidade da população à situação de semi-escravatura. O primeiro-ministro sabe muito bem o que está a fazer e sabe que quando sair do governo a pobreza será muito maior em Portugal e as desigualdades serão mais escandalosas.

Passos Coelho pensa que, ao apresentar a situação como uma tragédia trazida pela força do destino, livra a sua responsabilidade. Se fosse um pouco mais culto, saberia que Édipo, o infeliz Rei de Tebas da tragédia de Sófocles – aquele que matou o pai e casou com a própria mãe – não se sentiu menos responsável pelo facto de ter sido vítima do destino, ele que não sabia que aquele homem era seu pai e aquela mulher sua mãe. Uma tragédia, porém, trata de homens superiores e caracteres nobres. Passos de Coelho não passa de personagem de uma triste comédia, aquele género teatral que trata de homens inferiores, não apenas impotentes perante as potências do mal, mas subservientes.

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