Albert Rafols Casamada - La emoción y la razón (1965)
Kjell Nordstrom, professor universitário sueco, é considerado
como um dos grandes gurus do mundo dos negócios, e mesmo aqueles que não gostam
de gurus nem do mundo dos negócios devem prestar-lhe alguma atenção. Este tipo
de pessoas tem uma especial capacidade de orientar o olhar para aquilo que pode
estar a chegar. Quais os traços fundamentais que se destacam na sua retórica
sobre a saída da actual crise? A inovação e a emoção. Curiosamente são já os
conceitos fundamentais que conduziram à crise em que estamos mergulhados. A
produção do inédito e a substituição da razão pelo sentimento são os elementos
estruturantes do Zeitgeist das
últimas décadas.
Quem pensar que a actual crise é uma janela aberta para um certo
retorno de alguns valores ligados à racionalidade ocidental está redondamente
enganado. A crise que se está a viver é um momento onde a aceleração dos
processos iniciados com a modernidade se vai intensificar. Isto significa que a
tensão do futuro sobre o presente vais ser ainda maior e que o pensamento dos
actores sociais estará mais preso a imagens desse futuro do que à realidade
efectiva do presente. Daí a importância da inovação e da emoção.
Mas se pensarmos na essência destes dois conceitos ficamos perplexos.
Tanto um como o outro dissolvem aquilo que é essencial para o homem viver e
para as comunidades se desenvolverem: a estabilidade. O que assegura a
estabilidade é a solidez da tradição e a clareza da razão. Inovar significa
destruir a tradição, substituir o testado pelo que é novo. Apelar à emoção quer
dizer apenas que as decisões (individuais e colectivas) irão sendo cada vez
mais tomadas sobre a obscuridade do sentimento, em detrimento da luz da razão.
Isto significa então uma coisa deveras interessante: a saída para a
crise é a intensificação da própria crise: dissolver os laços racionais,
substituí-los por "links" emotivos, destruir o existente através da
inovação como processo de produção não apenas do novo, mas também da
obsolescência do velho, tudo isto significa apenas o crescimento das situações
críticas que atingem o mundo humano. Talvez o que possa estar a acontecer não
seja uma crise episódica, como aquela de 1929, mas a entrada num período
crítico contínuo e prolongado, do qual não haja saída dentro do quadro de
valores em que nos movemos desde o século XVII.
Há em toda esta história uma obscuridade que não deixa de assediar o
pensamento. Que estranha racionalidade foi aquela que emergiu no século XVII,
com Descartes, e se desenvolveu com o Iluminismo, o idealismo alemão, o
pragmatismo americano, que está a conduzir à aniquilação da própria razão no
magma do sentimento? Que irracionalidade se escondia no projecto da modernidade
para que agora ela venha, mais uma vez, à luz do dia? (averomundo, 2009/02/25)
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