Jesús de Perceval - Pensador (1934)
Com efeito, toda a degradação
individual ou nacional é imediatamente anunciada por uma degradação
rigorosamente proporcional na linguagem. Como poderia o homem perder uma ideia
ou apenas a rectidão de uma ideia sem perder a palavra ou a justeza da palavra
que a exprime? E, ao contrário, poderia ele pensar mais ou melhor sem o
manifestar de imediato pela sua linguagem? [Joseph de Maistre, Les Soirées de
Saint-Petersbourg. Deuxième entretien]
A precisão da linguagem é a outra face da precisão do pensamento e não
há pensamento rigoroso sem linguagem rigorosa. Quando a linguagem das novas
gerações, e das mais velhas também, atinge o grau de degradação em que hoje se
encontra, não é apenas a faculdade de falar que se encontra diminuída. É a
faculdade de pensar, o entendimento, que perde os seus instrumentos e se
degrada. A permissividade com que se trata a língua é o outro lado do desprezo
social que se tem pelo acto de pensar. Mas é este acto de pensar que permite ao
homem compreender o mundo, os seus semelhantes e a si mesmo. Mais: é pelo acto
de pensar que afirma a sua diferença específica com os animais não racionais. A
degradação da linguagem não é apenas uma degradação da nossa capacidade de comunicar
ou exprimir o que se passa em nós, é uma degradação da nossa natureza, uma
diminuição da nossa humanidade. Estudar gramática, aumentar o léxico, apreender
a sua plasticidade semântica, não são exercícios pueris, mas formas de nos
tornarmos humanos. (averomundo, 2009/04/13)
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