Paul Klee - Danzas causadas por el miedo (1938)
O medo é um elemento estrutural na vida política. Por estranho e irrazoável que isso possa parecer, o medo tem, muitas vezes, um papel moderador e racionalizante dos agentes políticos. Peguemos, mais uma vez, no exemplo grego e nas opções maximalistas da União Europeia. Se nada atemorizar a União Europeia e o FMI, os gregos pura e simplesmente serão abandonados à sua sorte (a qual não foi apenas criação sua, antes pelo contrário). Veja-se, por exemplo, a posição dos países de cultura católica perante os gregos. São tão furiosas como as dos outros. O que é interessante é que muitos economistas que apoiam as posições da UE e do FMI são católicos e foram formados em universidades católicas. Ora não há, neste momento, política que esteja mais contra a doutrina social da Igreja e a prédica do Papa do que a que eles defendem. Na verdade, não têm medo do Papa nem sequer do inferno. Ao perderem o medo tornaram-se os agentes de políticas que, segundo o Papa, infringem o mandamento «Não matarás!».
Imaginemos, agora, um outro cenário político. Por um momento, fantasiemos que a União Soviética ainda existia e o Muro de Berlim não tinha caído. Nessas circunstâncias, o leitor acharia que a posição da União Europeia seria a mesma? Os gregos seriam, na mesma, continuamente humilhados e ofendidos e não se teria em conta as opções da democracia grega? Nessas circunstâncias nem teria havido problema. O Syriza não seria sequer eleito, pois a União Europeia seria benévola com os gregos e qualquer dos partidos do arco da governação resolveria a situação. A UE dilataria os prazos de pagamento, anexá-los-ia ao crescimento económico, defenderia as pensões que agora quer cortar e aprovaria os salários praticados sem falar em cortes. Nem exigiria reformas. O medo levaria a União Europeia a ter uma posição construtiva e solidária com os gregos (e com os portugueses, pois deixem passar as eleições e preparem-se para o que vem aí). Quando o medo de uma das partes desaparece, a racionalidade da vida política é destruída e os fortes, sejam eles quem forem, não hesitarão em esmagar os fracos. A vida é o que é.
Imaginemos, agora, um outro cenário político. Por um momento, fantasiemos que a União Soviética ainda existia e o Muro de Berlim não tinha caído. Nessas circunstâncias, o leitor acharia que a posição da União Europeia seria a mesma? Os gregos seriam, na mesma, continuamente humilhados e ofendidos e não se teria em conta as opções da democracia grega? Nessas circunstâncias nem teria havido problema. O Syriza não seria sequer eleito, pois a União Europeia seria benévola com os gregos e qualquer dos partidos do arco da governação resolveria a situação. A UE dilataria os prazos de pagamento, anexá-los-ia ao crescimento económico, defenderia as pensões que agora quer cortar e aprovaria os salários praticados sem falar em cortes. Nem exigiria reformas. O medo levaria a União Europeia a ter uma posição construtiva e solidária com os gregos (e com os portugueses, pois deixem passar as eleições e preparem-se para o que vem aí). Quando o medo de uma das partes desaparece, a racionalidade da vida política é destruída e os fortes, sejam eles quem forem, não hesitarão em esmagar os fracos. A vida é o que é.
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