Jacinta Gil Roncalés - O político (1998)
Ao fim de 40 anos de eleições, todos sabemos como se passam as coisas nos períodos pré-eleitorais. Não me refiro apenas ao conteúdo substantivo dos discursos dos partidos que aspiram a exercer o poder. Refiro-me à linguagem usada. A mais pura indigência intelectual é o que ressalta aos ouvidos do cidadão. Não estou a dizer que os políticos deveriam ser uma espécie de intelectuais, cujos discursos seriam complexos e com arquitecturas teóricas pesadas. Não. Defendo, pelo contrário, que o discurso político deve ser claro, muito claro mesmo. O que se passa, porém, é que o discurso que ouvimos não é claro mas banal. A palavra na boca de certa gente fica imediatamente gasta, quase imprópria para ser usada por pessoas de bem. Esta banalidade da linguagem não é apenas o resultado de uma debilidade da eloquência dos candidatos à governação. Ela é o sinal da forma como eles vêem os cidadãos. Dirigem-se-nos como se não passássemos de um bando de idiotas ou de crianças ainda longe da idade adulta. À banalidade execrável das arengas e dos slogans corresponde o mais acintoso desprezo pelos cidadãos e pela comunidade. Consideram as nossas elites governativas que não merecemos mais do que o bolsar destas infindáveis trivialidades.
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