Domenico Beccafumi - L'Amor di Patria (1532-35)
O eurodeputado do PSD, Paulo Rangel, derrama por aí que os Estados-Nação estão acabados. Irá chegar o dia em que Portugal e os portugueses não existirão, proclama. É um facto que o ataque ao Estado-Nação tem sido uma das estratégias para privar os mais fracos da protecção que, apesar de tudo, o Estado-Nação representou para eles. A forma como Rangel apresenta a sua visão parece que ela decorre da natureza das coisas, numa espécie de determinismo metafísico que traz com ele um destino irrevogável. Com isto, Paulo Rangel esconde que a destruição do Estado-Nação é um projecto político voluntarista. Assenta na defesa de certos interesses e visa atingir outros interesses. Poderíamos dissertar sobre o facto de a direita ter, há muito, deixado de ser patriótica, tornando-se uma mera agência política dos interesses das multinacionais globais. Isto é um facto, mas não é isso que me interessa. O que me interessa é outra coisa. Paulo Rangel esquece que Portugal já existia muito antes da recente emergência do Estado-Nação. O que aconteceu é que, a dado momento, Portugal se adaptou às novas modas e às novas circunstâncias geopolíticas. Por que razão deveria soçobrar com o putativo naufrágio do Estado-Nação? Não estará Rangel, e a direita com ele, a ocultar um desejo profundo sob a forma de uma inevitabilidade histórica? Muitas foram as inevitabilidades históricas, proclamadas por Paulos Rangéis de múltiplas cores, que eu vi perderem a sua aura inevitável e desaparecerem no caixote do lixo da história, uma expressão ao gosto de outros advogados da inevitabilidade histórica.
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