Laszlo Moholy-Nagy - A tempestade, XII, n.º 8 (1921)
A actual tragédia grega, com as clivagens que ela traz devido às identidades ideológicas, tende a esconder aquilo que ela tem de mais evidente. O fim da democracia como alternativa entre modelos diferentes de sociedade. Não se trata de deixar de haver diferentes correntes políticas ou o fim das liberdades política e de expressão. Trata-se antes de uma situação muito mais insidiosa. Existem diversas correntes políticas, facções rivais que disputam o poder, a liberdade de expressão mantém-se, embora vigiada pelos accionistas dos mass media. O que estamos a constatar é que toda essa panóplia de opções políticas visa não a proposta de diferentes bens políticos mas apenas de um único bem. Explico-me: só há, nos dias de hoje e segundo as leis da União Europeia, uma finalidade política, a de um governo que incentive o lucro privado. A rivalidade e as alternativas visam assegurar o melhor fornecimento possível desse bem. Na prática, tendo em conta a legislação existente, a esquerda foi ilegalizada e a própria social-democracia tornou-se um crime. É contra isto que o governo grego luta. Na verdade, porém, a democracia está morta, como o desespero helénico não desiste de mostrar. Aquilo a que chamamos, nos dias de hoje, democracia não passa do cadáver que, paulatinamente, se decompõe para gáudio de uns e a infelicidade dos outros. Alterar este estado de coisas implicaria uma grande tempestade. Ora é o medo da tempestade - esse medo atávico que corrói as consciências dos povos - que assegura que nada mude. O que os actores não sabem - cegos pelos deuses - é que um dia, quer queiram quer não, a tempestade acabará por desabar.
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