Peter Lanyon - Europa (1954)
Houve um tempo em que nós, europeus, tínhamos a presunção de pertencer a um espaço político civilizado, onde a lei, os direitos dos indivíduos e a solidariedade se misturavam para criar o lugar para viver mais decente ao cima da terra. Esta ideia extraordinária deveria ter sido a fabricação ilusória de algum deus grego ou romano, uma espécie de véu que ele deitou sobre os nossos olhos, para, por um momento, nos aliviar da dor da existência. O deus - grego ou romano - cansou-se e deixou-nos abrir os olhos.
Veja-se a difícil situação de Itália, devido às ondas migrantes que a atingem, e a atitude dos outros países da UE. Veja-se a inominável patifaria a que a Grécia está sujeita pelos seu amigos (com amigos destes, mais vale fazer um pacto com os inimigos). Aquilo que em tempos foi um espaço de solidariedade tornou-se no palco onde os egoísmos nacionais se defrontam, um palco onde os fortes (e os criados de quarto dos fortes) não hesitam em subjugar e humilhar os fracos.
Como foi doce a ilusão de que do medo da guerra nasceria uma Europa decente, uma Europa menos egoísta e menos subjugada à animalidade que está presente no homem. Quem pensa que a humanidade muda engana-se. Continuamos os mesmo europeus que se mataram entre si em duas inomináveis grandes guerras. Os rancores voltaram à superfície e não param de crescer. Enganou-se quem, na segunda metade do século XX, pensou que a Europa seria o lugar da paz perpétua. A ilusão criada pelo deus dissipou-se, não tardará que a rude realidade volte a falar mais alto.
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