Antoni Guansé Brea - TV (1980)
Joaquim Vieira, Presidente do Observatório da Imprensa, escreve no
Público um artigo onde responde à questão «A Comunicação Social deixa transparecer alguma orientação partidária?» A resposta que dá resume-se nisto:
«Os media preocupam-se
sobretudo em perpetuar o statu quo político
e estão pouco ou nada abertos à alternativa e à mudança.» Este problema de
isenção – Vieira recorda que «isenção total, 100% pura, não existe» – é,
contudo, um problema secundário e derivado de um outro mais grave.
Que problema é esse? Trata-se da incapacidade do jornalismo – seja de
que tipo de media for – se distanciar das narrativas sociais e assumir
uma posição autónoma perante os discursos em vigor na sociedade. Para alguém
que tem uma formação em filosofia chega a ser confrangedor escutar os
noticiários ou ler a imprensa. As notícias não são relatos factuais mas meras
interpretações desses factos. Isso não deixa de ser uma inevitabilidade. O que
é preocupante, porém, é que os jornalistas não tenham a mínima capacidade para
perceber isso e, mesmo quando pretendem ser isentos politicamente, não deixam
de veicular um certo discurso social como se ele fosse a verdade.
Quando se pede isenção política aos jornalistas está-se apenas a pedir
que eles observem as regas mínimas da decência política numa sociedade
democrática. Esta isenção, porém, só seria possível se os jornalistas tivessem
uma capacidade crítica dos discursos sociais que correm na sociedade.
Manifestamente não o têm. Não o têm porque, nos dias de hoje, a comunicação
social não é apenas o veículo mas a fábrica onde se produzem os discursos
sociais, os quais, sublinhe-se, não passam de fábulas sobre os factos. Para que
os jornalistas fossem, efectivamente, autónomos, eles teriam de deixar de ser
jornalistas e tornar-se outra coisa. Teriam de passar de veiculadores e
produtores de opinião e assumir uma prática crítica e autocrítica dos discursos. Manifestamente,
não parecem minimamente talhados para a aventura.
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