Jean-Auguste Dominique Ingres - Hope and Charity
O Papa Francisco possui na sua agenda dois temas que deixam parte –
talvez uma parte minoritária, mas poderosa socialmente – dos católicos perplexos.
Trata-se da crítica ao regime económico mundial e as preocupações com o meio
ambiente. A perplexidade desses católicos nasce de uma longa tradição, onde a
sua distinção social era legitimada e afirmada através da sua ligação à Igreja Católica.
Francisco parece querer fazer voltar a Igreja para aquilo que ela era antes do
espúrio casamento com o Império Romano e a posterior ligação aos poderes
políticos instaurados sobre os despojos do Império.
A questão ambiental desagrada aos que olham para a Terra como um
imenso depósito de matérias primas a explorar, segundo o desejo dos homens, de
alguns dos homens. Movem-se grandes campanhas para tentar desacreditar os
estudos sobre aquecimento global e as práticas de usura de recursos e de
destruição dos habitats naturais estão
longe, muito longe, de serem acontecimentos raros. O que, no entanto, mais
irrita certas elites católicas é a apreciação do actual regime económico
mundial, o qual é fomentado por muitas universidades católicas e respectivos
departamentos de Economia.
Francisco é claro. A ordem económica mundial torna as pessoas
dispensáveis. Elas são meras coisas nas mãos da voracidade da elite mundial. Esta
crítica é inaceitável para grupos de católicos pouco habituados a ver nos outos
irmãos que, como eles, merecem o estatuto kantiano de pessoa. Uma pessoa é um
fim em si mesmo, como lembra o artigo de
hoje, no Público, de Frei Bento
Domingues, e não um mero instrumento para fins de terceiros. A Francisco
devemos, todos aqueles que acreditam numa ordem onde as pessoas e as
comunidades são mais importantes do que o dinheiro, ter trazido o assunto para
a primeira linha das preocupações globais. Devem também os católicos uma outra
coisa. Devem o facto de Francisco lembrar que a caridade é mais do que um jogo
onde os ricos brincam à caridadezinha, mas uma acto de amor que visa a
liberdade e autonomia de cada um. O que não deixa de constituir um princípio de esperança.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.