Paul Ackerman - Confrontation de deux conceptions (1967)
A minha crónica no Jornal Torrejano on-line.
O ano de 2016, do ponto de vista da política interna, foi
marcado pela descoberta, por muita gente, da inexistência em Portugal de
organizações políticas radicais e extremistas. Aquilo que para alguns, muito
poucos, já era claro – o facto de tanto o BE como o PCP perseguirem na prática,
para além da retórica discursiva para consumo interno dos respectivos partidos,
objectivos políticos moderados e de pendor social-democrata – tornou-se agora
patente. O país foi governado a partir de uma maioria de esquerda e, nem por um
instante, os compromissos de Portugal, com a União Europeia e a NATO, foram
postos em causa. O que se assistiu foi a uma recomposição tímida do tecido
social destruído pela intervenção da troika
e pelos governos de Sócrates e de Passos Coelho.
É verdade que a direita política e, fundamentalmente, a
direita presente nos blogues e colunas de opinião, tanto nos jornais como nas
televisões, não se cansa de gritar que somos governados pela extrema-esquerda
ou pela esquerda radical. O fascínio que o mantra provoca nesses grupos é tanto
que não têm percebido duas coisas fundamentais. A primeira é que fora desses círculos
ninguém leva o mantra a sério e, mais do que isso, ninguém tem medo, nas
actuais circunstâncias, da aproximação ao poder do BE e do PCP. Como arma
eleitoral não funciona. A segunda, mais grave para a direita, é que ela não
percebeu que o governo de Passos Coelho, cego pelo delírio neoliberal,
abandonou o centro (aquele centro que tanto Sá Carneiro como Cavaco Silva disputaram
com êxito à esquerda) e entregou-o de mão beijada não só ao PS mas ao BE e ao
PCP.
O ano de 2017 será diferente, por razões externas e
internas. Externamente, devido à vitória de Donald Trump nos EUA e ao
realinhamento geopolítico que isso vai implicar, independentemente do que se
passar nas eleições em França e na Alemanha. É possível que se assista a uma
reconfiguração dos processos de globalização e da pressão que esta tem exercido
sobre a vida política dos Estados-Nação. Internamente, as actuais movimentações
no PSD para defenestrar Passos Coelho são um sintoma de que a direita percebeu
que a aventura passista lhe alienou o centro. Neste momento, procura um condottiero que a reconduza à disputa do
centro e ao poder. Rui Rio parece ter as qualidades necessárias para ser esse
chefe da direita. Estas duas hipotéticas alterações trazem novos desafios à
esquerda. Se ela quiser continuar a determinar a evolução política do país, tem
de olhar para o que vem aí e deixar os fantasmas de Passos e da sua governação
na casa assombrada que é a deles.
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