Deveria o Bloco de Esquerda levantar-se e aplaudir o discurso do Rei
de Espanha? Aqui estou de acordo com o ministro Santos Silva: Era
o que faltava estarmos todos obrigados a aplaudir. Portanto, toda a
retórica condenatória do BE é, no mínimo, exagerada, mas compreensível no
âmbito da luta político-partidária. Sendo em absoluto legítima, a decisão do
BE parece-me, no entanto, absurda. Absurda porque funciona contra o próprio
BE. Porquê? Em primeiro lugar, porque é
uma atitude que é compreendida apenas pelo núcleo de eleitores mais fiéis do
BE, mas não é entendida pelos eleitores potenciais. Estes eleitores potenciais,
sem uma identidade política clara, têm tendência a não gostar de atitudes que
lhes pareçam falta de educação e de cortesia (coisa que nunca se deve confundir,
em política, com subserviência) e acabam por penalizá-las, sentindo que quem as
comete não tem maturidade política suficiente para merecer o voto. Num regime
de concorrência política, o reconhecimento pelos eleitores é essencial. Agir contra esse reconhecimento é irracional.
Em segundo lugar, e esta é a razão pela qual escrevo este post, é absurda do ponto de vista dos interesses
mais gerais da esquerda e do próprio país. A pergunta que se deve colocar é a
seguinte: uma atitude como a do BE – ou mesmo a do PCP, embora esta seja mais
madura e sensata – ajuda a alargar ou a diminuir os aliados de Portugal perante o diktat de Bruxelas, das regras do
Euro e da Alemanha? É claro que a atitude adoptada pelo BE, mais uma vez, vai
contra os próprios desígnios da organização, já que, se fosse adoptada por
todos os partidos portugueses, isolaria o país e eliminaria, num futuro mais ou
menos próximo, aliados que serão preciosos perante forças que se podem tornar
muito ameaçadoras para Portugal e para os portugueses, principalmente, para
aqueles que fazem parte do universo eleitoral das esquerdas. Não me parece uma conduta racional afrontar possíveis aliados.
Perguntará o leitor: sendo o BE uma organização republicana, antimonárquica,
aplaudir o discurso do Rei de Espanha, não seria uma quebra dos princípios? A
resposta parece-me clara: não. A monarquia espanhola é um problema dos
espanhóis. Por outro lado, desde Juan Carlos que ela tem sido um garante das
instituições democráticas, e Filipe VI, até hoje, não evidenciou qualquer tique
autoritário. A pureza principial e ideológica não seria manchada no que quer que fosse. O aplauso dos republicanos portugueses ao monarca
castelhano é um gesto político de respeito institucional e de alargamento dos
potenciais aliados. Em todos os actos políticos há que saber hierarquizar os
objectivos, coisa que, para os lados do BE, nem sempre é muito clara. E digo
isto apesar de ter um grande prazer pelo
facto de Portugal ter o 1.º de Dezembro e o 5 de Outubro como datas políticas essenciais para comemorar.
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