A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
O fenómeno político merece uma atenção especial pelos dramas que nele
se representam. António José Seguro sonhou ser primeiro-ministro e, durante uns
tempos, ao chegar à liderança dos socialistas, julgou que o poder lhe cairia no
colo, devido ao desgaste da coligação no poder. O mundo é cruel e não perdeu
tempo em tornar evidente que o agora ex-líder do PS era um político pouco
dotado para aquilo que pretendia, o poder. Se a oposição que fez a Passos
Coelho foi mais colaboração do que oposição, onde Seguro mostrou a sua
irrelevância política foi na forma como acolheu o desafio de António Costa.
Toda a estratégia que seguiu tornou patente a sua fraqueza.
Se António José Seguro fosse um político virtuoso teria reagido, ao
desafio que o Presidente da Câmara de Lisboa lhe lançou, de forma completamente
diferente daquilo que fez. A política tem como objectivo central a conquista do
poder e aqueles que o querem devem esperar a hora exacta para agir. Tudo tem um
tempo. Foi isso que António Costa fez. Esperou a hora em que o ataque ao poder
no partido poderia ter sucesso e não hesitou. Seguro deveria ter respondido de
imediato que sim senhor, vamos resolver rapidamente o assunto da liderança, em
vez de, como uma dama ofendida, se lamentar com a traição do camarada e de ter
manobrado para que a decisão do assunto demorasse uma eternidade.
Na forma como agiu, toda a gente percebeu que ele era um candidato
fraco e incapaz. Fraco porque partiu, numa situação em que isso era visto
negativamente pelos eleitores, para ataques pessoais ao adversário. Incapaz,
porque calculou mal. Ele teria toda a vantagem em resolver o assunto num rápido
congresso do partido e sem eleições primárias. Fez exactamente o contrário. Um hara-kiri. As primárias socialistas não
mostram a virtude política de Seguro. Mostram o equívoco que ele era. Quem se
engana de tal forma na manutenção do poder dentro de um partido menos capaz é
de o alcançar no país.
O que é interessante na política não é a esperança de que ela nos
resolva os problemas. Não resolve. Os nossos problemas teremos de ser nós a
resolvê-los condicionando os políticos. O interessante é observar estes dramas
pessoais, nos quais descobrimos muitas vezes um abismo entre as pretensões que
os indivíduos alimentam sobre si mesmos e a sua verdadeira natureza e capacidade
para conquistar o poder. Na política como no desporto, a vitória é o único
sinal de competência. O resto é pregação moral, mas a política não é o lugar da
moralidade, como Seguro percebeu no domingo passado. Um caso exemplar.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.