A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
Quando Nuno Crato foi indicado para ministro da Educação fiz um
prognóstico contrário às expectativas de muitos professores. Estes pensavam que
Crato iria ser o ministro que perceberia a classe docente e o estado da
Educação. Eu estava convicto de que Nuno Crato seria o maior flop do governo. E Nuno Crato é, de
facto, o maior falhanço de um governo onde não falta gente falhada. O actual
ministro da Educação é um exemplo acabado da leviandade com que se escolhem os
governantes em Portugal.
Quando supus que Nuno Crato seria um imenso malogro político não foi
porque discordasse das opiniões que emitia. Genericamente, estava de acordo. O
problema é que escrever crónicas num jornal ou comunicar na televisão pertence
mais ao foro literário do que à análise racional e sensata da realidade. Nuno
Crato tinha tudo para falhar. Em primeiro lugar, as suas opiniões sobre a
realidade escolar eram vagas e sem consistência científica. Em segundo lugar,
Nuno Crato não fazia a mínima ideia do que era uma escola, do que eram os
professores, os alunos e as famílias. A realidade escolar, que ele iria
governar, era-lhe completamente desconhecida. Em terceiro lugar, tinha um
programa ideológico fundado nos preconceitos liberais sobre a educação e uma
agenda privatizadora do ensino. Por fim, tinha excesso de boa imprensa, o que o
dispensou de se questionar e de tentar compreender o sector que iria tutelar.
Este cocktail de ignorância, incompetência e ideologia só podia
conduzir o sector ao descalabro que todos agora percebem. Esse desastre estava
já escrito desde a primeira hora que Crato assumiu a pasta. A sua manifestação
pública era apenas uma questão de tempo. O que me interessa, no entanto, não é
já o fracasso, motivado pela acção política, que atinge a Educação em Portugal.
Isso é uma tradição. O que me interessa é a facilidade com que se chega a
ministro no nosso país. O que me interessa é a irresponsabilidade dos
primeiros-ministros na escolha das suas equipas.
Nuno Crato, do ponto de vista da Educação, era uma irrelevância. O
facto de fazer opinião, seja sob a forma de crónica, de intervenção na
televisão ou de livro, não atesta qualquer saber ou capacidade na área que se
vai tutelar. O que contou na sua escolha não foi a competência técnica nem a
virtude política, foi a sua mediatização, a ideologia liberalizante e a boa
imprensa de que estava rodeado. É com este vazio que se chega a ministro em
Portugal. Depois, quando tudo corre mal, fica-se muito admirado. Esperamos
sempre que haja milagres. Não há.
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