Francisco de Goya - Sueño de la mentira y la inconstancia (1796-7)
A máquina está montada. Os erros de colocação de professores vão sair caro não ao ministro causador de todo este imbróglio, mas aos próprios professores. Como? Há dias discutimos aqui o artigo de José Manuel Fernandes, onde se esboçava já a estratégia de entregar a colocação de professores à iniciativa local. Mas José Manuel Fernandes era apenas o primeiro. Hoje, no Público, João Carlos Espada alinha pelo mesmo diapasão. A cereja em cima do bolo veio da boca do Presidente da República. No meio disto tudo, há um conjunto de mentiras postas a circular. Uma delas é que os erros de colocação são recorrentes. Não é verdade. Com esta dimensão, aconteceram com este ministro e aconteceram com um governo de Santana Lopes. Imagine-se.
Não vou retornar aos argumentos aqui expostos há dias. Todos nós sabemos como vão ser os concursos de professores quando eles forem entregues à iniciativa local. O que quero sublinhar, porém, é a convergência de certos sectores políticos, na impossibilidade de privatizar toda a educação, para retirar a questão dos professores da esfera do poder central. Visa três coisas. Em primeiro lugar, retirar força social aos professores, força que lhe é dada pela sua relação com o Ministério da Educação. É o fim de uma dor de cabeça. Em segundo lugar, pretende-se completar o processo de proletarização docente. Sem força, espartilhada entre autarquias e autonomias locais, a profissão será cada vez mais mal paga. Por fim, mas não menos importante, pretende-se entregar um bolo interessante aos poderes fácticos locais, para o gerirem conforme as suas necessidades.
O esquema é genial. O ministro não gosta dos concursos nacionais. Lança, por incompetência, presume-se, o caos na educação. Em vez de ser demitido, vai tornar-se um herói. Vai alcançar através do caos que lançou os objectivos que aqueles que o apoiam tanto desejam. Mais uma vez, os professores são uma espécie de bombos da festa. Presos por terem cão e presos por não o terem. Nuno Crato, um dos piores ministros da Educação, ainda vai ser condecorado como herói por ter aberto caminho à libertação da classe política da sombra do professorado. Quanto aos professores, que se aguentem. Quem os mandou escolher uma profissão que visa o bem comum?
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