Frantisek Kupka - Composição em azul (1925)
Duas buganvílias de brácteas cor de malva, de onde espiam pequenas
flores brancas matizadas por um amarelo discreto, ladeiam o pequeno lago,
crescem em direcção à fonte, sem a ordem trazida pela mão do jardineiro. Vivem em
equilíbrio precário, engavinhando-se no murete que retém a água, deixando-se
ondular, se sopra o vento, e recolhem-se na vigilância protectora de dois
carvalhos, cujas folhas, marcadas já por um acobreado irremediável, anunciam o
Outono decidido no seu caminho para o frio dos dias de Inverno. Estas árvores
formam um pálio sobre a fonte, como se esta fosse um andor revestido de uma
sombra divina. Um pouco mais à frente, divisa-se o descuido de ervas silvestres,
que disputam ente si o espaço do velho jardim. Ao longe, a floresta cresce
imperturbada pela decadência do antigo paraíso. Um oceano de carvalhos antigos,
pontuado, aqui e ali, por clareiras medianas, onde podemos ver, entre a azáfama
de enormes formigas, a decomposição das folhas, a sua lenta metamorfose em
húmus, que há-de vivificar a terra, num ciclo infinito de vida e morte. A luz
fria do dia tinge as árvores de um verde pálido e cai azul na água do lago. Um
pássaro, de penas castanhas, talvez um pardal, poisa e bebe, com rápidos
movimentos do pescoço, a água fria e parada da fonte. Um ruído ao longe, a ave
levanta voo e perde-se no céu azul reflectido no anil da fonte.
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