segunda-feira, 30 de abril de 2012

Escutar a palavra de José Matoso


Vale a pena ler cada palavra desta entrevista de José Mattoso ao Público. Percebe-se aquilo que socialmente se perde com a erosão do cristianismo nas sociedades modernas, percebe-se como a vida fica mais desumana, mais sem sentido, percebe-se como o pior de nós tem um espaço mais amplo para se manifestar. Entrevista mostra também que à Igreja Católica seriam necessários, no activo, mais e mais homens ou mulheres como José Mattoso. Inteligência e cultura nunca fizeram mal. Mas também não sãp inúteis a capacidade crítica e o exercício da razão. Homens como José Mattoso sempre podem contribuir para que a Igreja Católica estabeleça, nos dias de hoje, uma ponte firme entre o princípio de obediência que impõe aos crentes e o princípio crítico que os tempos modernos erigiram como ideia central da vida. 

Se a relação entre obediência e crítica, entre Tradição e Modernidade, é uma questão fundamental, há uma outra que o historiador aborda quando diz pretender "dedicar-me a descobrir o valor da palavra, o autêntico significado da palavra, no sentido de linguagem, de expressão da realidade, no sentido de logos. Encontra-me na meditação da palavra como expressão do mundo, da existência, da história, e descobrir-lhe um sentido". Esta necessidade de meditação da palavra é o sintoma de uma inclinação contemplativa, a qual, fora dos mosteiros, parece não ter lugar ou aceitação. No entanto, há no Ocidente, apesar de toda a sociedade estar infestada pela doença do activismo, inúmeras pessoas que estão disponíveis ou necessitam desta escuta da palavra, deste exercício de contemplação, mesmo se as suas vidas decorrem no mundo e são, em grande medida, vidas entregues à acção. Este espaço não é o dos grupos de leigos que partilham a fé, mas de aqueles que - para além da fé que possuem ou não - sentem o apelo do mistério do ser, sentem o apelo à sua meditação, desejam escutar o que a palavra lhe traz sobre esse mistério. Nunca como hoje, o mundo precisou, no seu seio e presentes na vida quotidiana, de contemplativos.

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