domingo, 8 de abril de 2012

Poema 38 - Domingo de Páscoa


Renuncio ao sepulcro do teu corpo
– As vísceras, rumor fatal, a fermentar
Na humidade da pedra pela morte lavrada –
E salto para a vida com a pele a arder,
Para o olhar das mulheres que me amaram.

O meu corpo não é um corpo,
Mas terra de aluvião. Haverá vinhedos,
Pomares, searas de veludo e um rio de ervas.
Ervas frescas ao sol do estio, ervas azedas:
Comê-las-emos nos dias de penúria.

Abandono aos mortos a quietude da morte,
Deixo-lhes a escuridão por destino.
O silêncio da noite uiva sobre mim
E descubro, nas entranhas do cordeiro,
O açoite do lobo a cantar na madrugada.

2 comentários:

  1. Lindíssimo. A história, afinal, acabou mesmo bem e este seu ciclo acabou em perfeição.

    Parabéns, que não era tarefa fácil.

    Bom domingo de Páscoa.

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