Francis Wu - The Rosary (ca. 1950)
Uma longa tradição cristalizou a experiência metafísica numa rede de conceitos que se manipulam segundo regras logicamente determinadas. Esta cristalização transformou aquilo que era uma experiência num conjunto de teorias dogmáticas a que se deu o nome de Metafísica, que seria a rainha das ciências. Até que Kant, nos finais do século XVIII, tornou evidente o equívoco: enquanto ciência, a Metafísica não é possível. Este momento é libertador pois permite devolver a metafísica à dimensão da experiência e da realização existencial. Não se trata de especular sobre os princípios transcendentes mas de viver a transcendência, de tornar o indivíduo permeável àquilo que o ultrapassa. O que torna metafísica a fotografia de Francis Wu não é a presença de um objecto, o rosário, que tem, em diversas religiões, um papel na prática dos crentes. O que torna metafísica a fotografia de Wu, como acontece em muitas das suas fotografias, é que ela permite perceber que, na figura retratada, se manifesta aquilo que está para além dela. Uma presença não física manifesta-se no jogo de formas, luz e sombras. Esta fotografia de Francis Wu diz-nos mais sobre a metafísica de que os tratados que, sobre ela, foram escritos deste Aristóteles.
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