Um espectro ronda a Europa. (Karl Marx, Manifesto do Partido Comunista)
O espectro que ronda a Europa, nos dias de hoje, não é o do comunismo, como pensava Marx em 1848 (já repararam que não tarda e passaram 200 anos?). O espectro de hoje é ainda mais espectral. Trata-se do espectro da intolerância, como se pode ver por esta notícia do The Independent. Uma geração como a minha, que se tornou adulta depois do Maio de 68 e do 25 de Abril de 74, tem dificuldade em perceber estas figuras espectrais, sejam elas judias, como a relatada no artigo do The Independent, sejam muçulmanas, sejam cristãs ou ateias. O espectro da intolerância actual é o desejo crescente de querer dizer aos outros, gente adulta e autónoma, o que devem e não devem fazer na vida.
A ideia destes fundamentalistas hassídicos de proibir as mulheres de conduzir porque isso atenta contra a modéstia é não apenas absurda e ridícula. É um atentado contra as liberdades individuais, contra o direito de cada um regular a sua vontade como entender, desde que respeito a liberdade dos outros. O dramático é que estes pequenos grupos são cada vez mais numerosos e com múltiplas cores. Aquilo que pode ser um episódio risível está a tornar-se, lentamente, um modo de estar com direito de cidade. A Europa não apenas está rodeada de sociedades espectrais como, dentro dela, não param de nascer fantasmas para a assediar, gente disposta a impor aos outros o comportamento que bem entende. O espectro do paternalismo deveria causar à consciência europeia um arrepio de medo. Um grande arrepio.
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