Alfonso Rodríguez Castelao - Cegos (1915)
Para além das clivagens motivadas pelos modelos de sociedade em que cada um acredita, há um problema que afecta os portugueses e os torna cegos - literalmente, cegos - para aquilo que tolhe o país e aniquila a iniciativa e a criatividade. Trata-se do problema do reconhecimento do mérito. Um estudo recente torna evidente aquilo que todos nós suspeitávamos: o mérito é praticamente irrelevante quando se trata de escolher pessoas para promoções ou cargos importante. E isto não se passa apenas no Estado. Também as empresas, ao contrário do que seria de esperar, têm um comportamento idêntico. As pessoas são escolhidas por amizade, influência política, relações de família, interesses extra-organizacionais.
A irrelevância do mérito em Portugal tem, claro, profundas raízes. É a marca de uma mentalidade pré-moderna assente em relações de serviço e de vassalagem, de protecção da família (seja esta a biológica, a política ou outra) e de arbítrio daqueles que estão no lugar do poder e que, evitando a ascensão da cultura do mérito, esperam perpetuar-se, a eles e aos seus herdeiros, nos melhores cargos. Não vale a pena dar exemplos. Basta olhar para as nomeações de qualquer governo ou ver o que se passa em qualquer local de trabalho. A situação é, de facto, tão ostensiva que tem uma dupla consequência. Toda a gente sabe que é assim e, ao mesmo tempo, esse saber torna as pessoas cegas para a injustiça e para a destruição organizacional que isso representa.
A isto liga-se um outro problema cujo efeito deletério não é menor. Ninguém - rigorosamente, ninguém - acredita na neutralidade e na imparcialidade de quem tem de escolher pessoas, julgar capacidades, avaliar desempenhos. Por trás da irrelevância do mérito está uma cultura do reconhecimento iníqua. Os que, pelas suas obrigações profissionais, públicas ou privadas, deveriam ser neutros e imparciais, não o são. E esta percepção do carácter tendencioso e parcial das chefias é uma poderosa ferramenta de deslegitimação de quem dirige, um factor de destruição da capacidade de iniciativa de quem a tem e de anulação dos que são criativos e têm potencial para criar novas situações e produtos. O desprezo pelo mérito é uma recusa do reconhecimento daqueles que deveriam ser reconhecidos. O desprezo pelo mérito faz de Portugal um país de cegos dirigidos por outros cegos.
A irrelevância do mérito em Portugal tem, claro, profundas raízes. É a marca de uma mentalidade pré-moderna assente em relações de serviço e de vassalagem, de protecção da família (seja esta a biológica, a política ou outra) e de arbítrio daqueles que estão no lugar do poder e que, evitando a ascensão da cultura do mérito, esperam perpetuar-se, a eles e aos seus herdeiros, nos melhores cargos. Não vale a pena dar exemplos. Basta olhar para as nomeações de qualquer governo ou ver o que se passa em qualquer local de trabalho. A situação é, de facto, tão ostensiva que tem uma dupla consequência. Toda a gente sabe que é assim e, ao mesmo tempo, esse saber torna as pessoas cegas para a injustiça e para a destruição organizacional que isso representa.
A isto liga-se um outro problema cujo efeito deletério não é menor. Ninguém - rigorosamente, ninguém - acredita na neutralidade e na imparcialidade de quem tem de escolher pessoas, julgar capacidades, avaliar desempenhos. Por trás da irrelevância do mérito está uma cultura do reconhecimento iníqua. Os que, pelas suas obrigações profissionais, públicas ou privadas, deveriam ser neutros e imparciais, não o são. E esta percepção do carácter tendencioso e parcial das chefias é uma poderosa ferramenta de deslegitimação de quem dirige, um factor de destruição da capacidade de iniciativa de quem a tem e de anulação dos que são criativos e têm potencial para criar novas situações e produtos. O desprezo pelo mérito é uma recusa do reconhecimento daqueles que deveriam ser reconhecidos. O desprezo pelo mérito faz de Portugal um país de cegos dirigidos por outros cegos.
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