As últimas sondagens mostram que continua a haver um amplo consenso
nacional relativamente às políticas que têm sido seguidas pela União Europeia. Quase
3/4 dos inquiridos dizem ir votar no PS ou na coligação PSD/CDS. Para lá da retórica
e de um ou outro ponto sem relevo, as políticas destes dois blocos são
idênticas e inscrevem-se nos valores dominantes ao nível europeu. Isto é
louvado por muitos como prova da adesão popular ao projecto da UE. Outros, mais
avisados, chamam a atenção para o facto de os portugueses intuírem de onde lhes
pode vir a ajuda. O que é interessante nestes resultados, contudo, é uma outra
coisa.
Na Grécia ou em Espanha, talvez mesmo em França, os eleitorados
parecem decididos a correr riscos e a pôr em causa o conjunto de políticas
impostas pelo diktat germânico. Os
portugueses, por seu lado, não se entusiasmam nem com os antigos partidos não
governamentais nem parecem muito interessados nos novos que, imitando as modas
de lá de fora, vão por aí surgindo. A corrupção endémica, a destruição das
classes médias, o empobrecimento sistemático das camadas populares, o minguar
acelerado do Estado social, a venda ao desbarato das empresas públicas, o
desemprego e a emigração, nada disso comove os portugueses e os leva a correr
riscos na hora da escolha política. Escolhem os mesmos para que tudo fique na
mesma. Isto é, para que tudo piore.
Os partidos do arco da governação, os beneficiários do conservadorismo
eleitoral português, rejubilam com a atitude e prometem que, depois das
eleições, as coisas mudarão. A oposição socialista diz que mudará rapidamente.
A coligação governamental promete que o céu virá um pouco mais devagar.
Socialistas e governo mentem e mentem descaradamente. Sabem, ou deveriam saber,
que o conservadorismo do eleitorado português que os protege é o sintoma da
doença que corrói o país, doença da qual eles são os principais usufrutuários.
O que significa o conservadorismo eleitoral português? Significa o
medo de correr riscos, significa o contentamento com a mediocridade, significa
a falta de exigência geral que os portugueses têm relativamente à res publica. Ora este medo de correr
riscos e este contentamento com a mediocridade dominante não diz respeito
apenas à política. Diz respeito a tudo. Desde a educação ao emprego, os
portugueses aceitam asceticamente e sem fazer ondas o que lhes dêem. Aceitam o
que cai do céu, mas não estão dispostos a correr riscos e criar por si mesmos o
seu destino. O destino dos portugueses é sempre uma dádiva dos pequenos poderes
que, sem muito zelo, nos pastoreiam. E isto é o grande problema.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.