Julia Hidalgo Quejo - Silêncio (1989)
Uma das características centrais dos nossos tempos é a ausência de
silêncio. Por todo o lado há um ruído de fundo que nos cerca e que impõe o seu
império. Este ruído é global e, como uma espécie de estado totalitário, cerca-nos, como se não fosse possível fugir de tão terrível potestade.
Desde a televisão ao rumor dos carros por ruas e avenidas,
passando pela omnipresença da música – a mais insidiosa forma de poluição
sonora – a vida contemporânea eliminou, como se tratasse de uma terrível doença
contagiosa, o silêncio. A algazarra geral a que a espécie se entrega é a outra
face da moeda da mobilização própria aos tempos modernos. Acção desenfreada e
ruído sem fim são o corolário da ideia de que os homens devem estar
constantemente mobilizados, prontos a agir, a trabalhar, a militar, a fazer, a
produzir, a reconstruir o mundo de alto abaixo. Os homens podem tornar-se até
mais ricos, possuir mais bens materiais, ostentar o triunfo sobre as forças da
natureza, mas, ao perder o silêncio, eles alienam a sua condição humana, aquela
condição que necessita do equilíbrio entre o agir e o contemplar, entre o som e
o silêncio.
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