Giorgio de Chirico - The Evil Genius of a King (1914-15)
Enquanto universitário, com
efeito, quando apresento um argumento numa discussão, espero que o que está
diante de mim apresente um contra-argumento. Ora o que nos opuseram foram
regras. (Euclides Tsakalotos, coordenador da equipa de negociadores gregos com as instituições europeias)
O governo grego tem todas as hipóteses para falhar os seus objectivos.
Há nele uma espécie de candura que não prenuncia nada de bom. Veja-se o que diz
o coordenador da equipa de negociadores gregos, o universitário Euclides
Tsakalotos. Lamenta que, nas discussões com as instituições europeias, quando
apresenta um argumento a favor das suas posições o outro lado não
contra-argumente e contraponha apenas com as regras. Tsakalotos, Varoufakis e
Tsipras deveriam saber uma coisa. O que está em jogo nas negociações não é a
verdade mas o poder.
Argumentar e contra-argumentar faz parte do jogo que procura chegar à
verdade. A regra fala-nos do poder. Quem tem poder impõe regras não se preocupa
com a verdade. A verdade não faz parte da política, a não ser de forma secundária
e quando ela permite reforçar o poder. Os argumentos dos gregos são sensatos e
razoáveis. Estão escorados em análises sólidas da situação e as perspectivas das instituições europeias já foram desmentidas pelos factos. Pode-se afirmar que os argumentos de Tsakalotos são mais verdadeiros – ou mais verosímeis – que os das instituições europeias.
Mas a verdade é aqui irrelevante. O que conta é a vontade de quem tem o poder
de impor o seu ponto de vista.
Se o governo do Syriza quer aplicar o seu programa terá de perceber
que qualquer argumentação razoável é inútil. Só há uma linguagem que poderá
demover as instituições europeias, a linguagem do poder. Se a Grécia tiver
capacidade para pôr em causa, de alguma maneira, o poder europeu, então ela
poderá abrir caminho para ver as suas pretensões reconhecidas. Caso contrário,
a regra falará sempre mais alto que o argumento, pois a regra não é outra coisa
senão o poder codificado. Fora disto é não saber qual é a natureza da
política. Ninguém quer saber da verdade e não há maior ingenuidade do que não perceber
isso.
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