A necessidade, já os gregos o sabiam, é uma deusa não só cega mas também cruel. (Jonathan Littell, As Benevolentes)
Visitar os gregos e os romanos antigos é uma peregrinação a que nenhum ocidental, de instrução mediana, deveria ser poupado. Sei bem que a Querela dos Antigos e dos Modernos, apesar de acesa, acabou por ditar a vitória dos modernos sobre os modelos provenientes da antiguidade clássica. A vitória dos Modernos, ao nível das artes, é concomitante com a afirmação da modernidade ao nível geral da cultura e da vida social e política. Quando me pergunto por que razão não sou um liberal, eu que prezo a liberdade com um valor central da vida, a única resposta que encontro é a da frequência dos antigos. Foram elas que me explicaram que, para além da liberdade, existe aquela deusa cega e cruel que é a necessidade (a Ananké - Ανάγκη - dos gregos). Esta necessidade é o outro lado da liberdade.
Quando os liberais sublinham que a sociedade se deve regular por contratos realizados entre pessoas livres e racionais estão a esquecer um elemento fundamental, estão a esquecer a terrível necessidade que leva a que muitos homens se apresentem nos actos contratuais com a liberdade e a racionalidade diminuídas pela cruel e cega necessidade. Os liberais mentem-se a si e mentem à sociedade quando esquecem o papel da necessidade, quando apagam o modo como a história coagulou as relações humanas dando a uns homens mais liberdade e a outros mais necessidade. É por isso que a concepção de um homem livre e racional que interactua através de contratos legais é uma ficção, uma ficção reguladora e orientadora do desenvolvimento do homem, mas uma ficção, ainda assim. Tomar esta ficção por realidade actual (em acto, como diria Aristóteles) não é apenas um logro mas um exercício de profunda injustiça.
Quando os liberais sublinham que a sociedade se deve regular por contratos realizados entre pessoas livres e racionais estão a esquecer um elemento fundamental, estão a esquecer a terrível necessidade que leva a que muitos homens se apresentem nos actos contratuais com a liberdade e a racionalidade diminuídas pela cruel e cega necessidade. Os liberais mentem-se a si e mentem à sociedade quando esquecem o papel da necessidade, quando apagam o modo como a história coagulou as relações humanas dando a uns homens mais liberdade e a outros mais necessidade. É por isso que a concepção de um homem livre e racional que interactua através de contratos legais é uma ficção, uma ficção reguladora e orientadora do desenvolvimento do homem, mas uma ficção, ainda assim. Tomar esta ficção por realidade actual (em acto, como diria Aristóteles) não é apenas um logro mas um exercício de profunda injustiça.
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