A minha crónica quinzenal no Jornal Torrejano.
Alevantou-se um grande alvoroço com a apresentação de um documento de
economistas ligados ao Partido Socialista. Os socialistas de vários tons, a
comunicação social e até o governo, por motivos diversos, exultaram. Em linha
gerais o documento limita-se a confirmar as actuais políticas europeias. Por
não ser dado a alevantamentos e a alvoroços, a única coisa que surgiu na minha
mente foi uma pergunta: para que servem os socialistas? Não se trata apenas dos
socialistas portugueses, mas de todos os partidos socialistas,
social-democratas (não confundir com o PSD paroquial) e trabalhistas europeus.
Houve um tempo em que os socialistas tinham um importante papel no
equilíbrio das sociedades. Rejeitavam a revolução, a ditadura do proletariado,
o planeamento da economia. Eram favoráveis às liberdades básicas, aos mercados
livres, mas regulados pelo Estado, e defendiam políticas de concertação social,
onde a riqueza era distribuída de forma menos injusta. Tudo isto se
consubstanciava num Estado social, cujos pilares eram a segurança social, a
educação, como factor de mobilidade, e a saúde. Por isso, atribuíam a si
próprios o epíteto de esquerda democrática.
Se há uma coisa que a União Europeia deseja tenazmente é a destruição
do Estado social. Imbuída de um espírito liberal puro e duro, a direita
europeia, que governa efectivamente a Europa, procura desfazer, tão depressa
quanto puder, todo o edifício de protecção social que foi construído no
pós-guerra. Tudo deve ser entregue aos interesses privados, mesmo funções que
outrora pertenciam à área da soberania. O efeito da política europeia é a
destruição da classe média e a desqualificação sistemática do trabalho.
Veja-se, por exemplo, o preço a que hoje são contratados engenheiros ou os
casos crescentes de pessoas que, apesar de trabalharem, são efectivamente
pobres, pois o seu rendimento não lhes permite fazer frente às necessidades
básicas.
Perante isto, esperava-se dos socialistas europeus um grito de revolta
em nome das antigas tradições, em memória das sociedades equilibradas que
ajudaram a erguer Europa fora. A verdade, contudo, é que, no essencial, pouco
ou nada distingue as actuais gerações de políticos socialistas dos seus
confrades de direita. Defendem as mesmas opções e perseguem os mesmos fins. Foi
isso que o documento dos economistas socialistas veio confirmar. Se o leitor
pretende uma sociedade mais equilibrada e justa, não sei onde a poderá ir
buscar. Uma coisa, no entanto, sei: não é no lado do governo nem no dos
socialistas. Socialistas, para quê?
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