quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Persistência e superação


Juan Botas - School (1989)

Os bons resultados de Matemática dos alunos portugueses do 4º ano, no TIMSS (um estudo internacional comparativo sobre o desempenho escolar em Matemática e Ciências) de 2015, acabam por sufragar as políticas educativas na área da Matemática que, desde a primeira participação portuguesa nesses estudos, em 1995, têm sido desenvolvidas. Antes de falar delas, chama-se a atenção para o facto de Portugal ter, em 2015, atingido a 13.ª posição e ultrapassado mesmo a Finlândia, um país de referência na Europa, no sector da educação. Note-se no entanto que Portugal, como a generalidade dos países ocidentais, estão ainda longe dos desempenhos dos países asiáticos. Note-se, por outro lado, que este aumento do desempenho da Matemático foi acompanhado por uma queda no domínio das Ciências.

Há agora uma grande disputa sobre os méritos políticos deste desempenho. Mais importante do que essa disputa entre PS e PSD é salientar três aspectos centrais que me parecem decisivos para esta contínua melhoria dos resultados. Em primeiro lugar, o aumento da carga horária dedicada à Matemática, que permitiu mais tempo de contacto dos alunos com uma linguagem abstracta e muito desligada das preocupações do quotidiano. Em segundo lugar, o Plano Nacional da Matemática, que generalizou novas práticas de ensino da disciplina e permitiu fortalecer o corpo docente. Por fim, os efémeros exames nacionais do 1.º ciclo, que criaram, em muitas escolas, um efectivo espírito de colaboração entre professores, alunos e pais com vista a assegurar um bom desempenho dos alunos, através de aprendizagens consistentes, na avaliação externa.

É lamentável que os exames nacionais no 1.º e 2.º ciclos de escolaridade, em vez de terem sido alargados a outras disciplinas, tenham sido, por este governo, eliminados. Eram um factor de mobilização importante, embora outros factores, como a formação de professores sejam tão ou mais decisivos que os exames. Seja como for, o país poderia aprender um pouco com este sucesso – esperemos que não seja um mero relâmpago – da Matemática no 1.º ciclo. Aprender o quê? Em primeiro lugar, que as transformações exigem tempo. Do miserável penúltimo lugar no TIMSS de 1995 ao actual 13.º demoraram 20 anos. Para haver frutos é necessário tempo e persistência. Em segundo lugar, que é preciso exigir e avaliar resultados. Sem essa pressão, os actores não sentem a obrigação de se superar. Persistência no tempo e um ideal de superação. É isso que o país precisa.

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