A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
Jorge Mario Bergoglio irrompeu na esfera pública
global com uma força inesperada. Esta força deve-se, claro, ao seu
carácter, ao carisma pessoal, à bonomia e simplicidade franciscana em
que sempre tem vivido. O acolhimento que tem recebido é também sintoma
da exaustão a que os homens modernos estão submetidos. Não é apenas a
crise económica e financeira que predispõe os homens, mesmo os que são
religiosamente indiferentes, a acolher o novo Papa, a sentir alguma
curiosidade com a figura que ocupa o lugar de Pedro.
É a própria vacuidade da vida contemporânea, o fastio a que conduz
uma existência fundada no prazer pessoal e na busca contínua de mais e
mais experiências exaltantes, num mundo que cada vez tem menos coisas
que causem exaltação. O acolhimento que o Papa Bergoglio tem tido é
também um importante sintoma das patologias sociais e culturais que se
abatem sobre os homens modernos. O que tem a sociedade contemporânea – a
sociedade mais desenvolvida tecnologicamente – a oferecer aos homens? A
uma minoria, oferece dinheiro e mais dinheiro, talvez um conjunto de
prazeres cada vez mais caros e, ao mesmo tempo, mais fúteis. À grande
maioria oferece a pobreza e a inveja, oferece a raiva e a impotência.
É no vazio espiritual de um mundo que perdeu todas as causas que
Bergoglio e o seu discurso sobre os pobres parecem ser uma radical
novidade. Não o são, na verdade. Mas o facto de agora haver essa
aparência permite perceber que se pode estar a dar uma alteração na
capacidade do homem moderno escutar. Isto não significa que vamos
assistir a uma vaga de conversões ou reconversões ao catolicismo.
Significa antes a situação de grande carência em que os homens se
encontram. Significa que talvez comecem a perceber o estado de errância
que é o seu, que talvez possam compreender que as suas vidas são, devido
à manipulação das sociedades do espectáculo e do consumo, destituídas
de sentido e de dignidade.
Ratzinger é um homem brilhante, um dos intelectuais mais lúcidos
desta nossa velha Europa, mas a sua capacidade de diálogo com os homens
comuns é diminuta. As pessoas suspeitam nele a superioridade que ele, de
facto, tem e sentem isso como uma ofensa e um incómodo. Bergoglio é
diferente. É um latino e tem uma maior capacidade de ir direito ao
coração dos homens. Talvez seja isso o que as pessoas esperam. Um Papa
que trabalhou com os pobres, que recusou viver num palácio, que andava
em transportes públicos, que gosta de futebol e de tango e que, por tudo
isso, representa uma promessa de sentido para uma vida que parece ter
perdido qualquer sentido.
O meu distanciamento relativamente ao tema, apenas me permite dizer que, será bom que o novo Papa mude a ICAR antes que esta o mude a ele.
ResponderEliminarAbraço
O que me interessa, de facto, é o fenómeno de acolhimento da figura do novo Papa. Este acolhimento não vem apenas dos sectores católicos. O que se passa a nível sociocultural para que isto esteja a ser assim? Julgo que o maior perigo para o Papa nem venha da ICAR, mas da comunicação social e da sociedade do espectáculo. Ele só tem interesse enquanto para a comunicação enquanto contiver alguma novidade que permita que o espectáculo continue, que permita fazer mais umas horas de televisão a baixo custo.
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