Sócrates retorna à intervenção pública e política
porque quer ser Presidente da República. Contrariamente ao que muitos
pensam, Sócrates tem algumas possibilidades de conseguir realizar o seu
objectivo. Recorde-se o discurso de derrota nas últimas eleições. Foi,
técnica e politicamente, um excelente discurso. Não havia ressentimento
nas palavras nem se acusava ninguém. Tinha ido à luta e tinha perdido,
nada mais natural em democracia. O discurso era o primeiro passo para o
novo objectivo.
O segundo passo foi retirar-se. A vozearia contra ele teve o silêncio
como resposta. A única intervenção que fez foi para dizer o óbvio, a
dívida não se paga mas gere-se. Sócrates deixou que o governo e Passos
Coelho se enterrassem, deixou que os portugueses fizessem a experiência
do que a direita tinha para dar. O terceiro passo vai começar na
televisão.
Porquê agora e não daqui a uns meses? Este é o momento em que
toda a gente já percebeu que as opções do governo falharam. Toda a gente
compreendeu que o ir além da troika de Passos Coelho e de Gaspar está a
destruir o país. Sócrates não deixará de lembrar aos portugueses que
foi obrigado a pedir o resgate porque o PEC IV foi derrotado por uma
coligação entre a direita e esquerda radical. Estando isso percebido,
Sócrates posiciona-se para ocupar o lugar de candidato na área
socialista.
Terá Sócrates hipóteses de chegar à Presidência? Sócrates tem
muitos anticorpos à direita e à esquerda. Mas o caminho para Belém está
mais aberto do que parece. O descalabro do governo, os silêncios de
Cavaco, a impotência de Seguro, o desprezo com que os portugueses
continuam a ver o PCP e o BE e o aturdimento geral ajudam. Partido
Comunista e Bloco de Esquerda não têm qualquer hipótese de apresentar um
candidato ganhador. Mesmo que odeiem Sócrates, como odiavam Soares,
quando chegar à hora da verdade terão de engolir o sapo. Restam os
verdadeiros concorrentes ao lugar, Guterres, na área socialista, e Durão
Barroso, na direita.
Sócrates tem uma vantagem sobre eles. Dirá que nunca fugiu às
dificuldades, que não trocou a governação do país por um lugar ao sol no
estrangeiro. Dirá que sempre deu a cara pelas suas ideias e opções.
Depois, há que distinguir entre a opinião publicada, hoje muito
desfavorável, e a opinião pública, mais maleável e desorientada. A essa,
onde residem os votos, Sócrates vai começar a trabalhá-la semana a
semana. Por muito que não se goste da personagem, é preciso perceber que
Sócrates ainda não está morto, não tem medo da política e o mito de D.
Sebastião está agora do lado dele.
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P.S. O artigo foi escrito antes da entrevista de Sócrates à RTP. O facto de o ex-primeiro-ministro ter dito que não era candidato a nada não altera a convicção de que ele quer ser candidato presidencial. A tese não é original, mas explica a razão por que ele se dispõe a enfrentar todas as resistências negativas que a sua pessoa gera.
Não me leve a mal, mas creio que o seu P.S. (risos) é desnecessário. Quem duvida das intenções de Sócrates?
ResponderEliminarEle sabe-a toda...
Entretanto convém não esquecer o -sempre- putativo Marcelo.
Quanto aos portugueses, se contarmos bem, a “estória” só interessa a 50%...ou menos.
Os outros 50%...ou mais, desprezam todos.
Tenha um bom Domingo de Páscoa.
Um abraço
Marcelo, é verdade. Também Rui Rio.
EliminarBom domingo de Páscoa.
Abraço
Isso, no texto e nos comentários. Estamos, pois, no ponto de (não) retorno.
ResponderEliminarTem toda a razão, estamos já num ponto de não retorno.
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