quarta-feira, 27 de março de 2013

Poema 56 - Os sóbrios alvores da madrugada

Javier Clavo - Amanecer (1978)

56. Os sóbrios alvores da madrugada

Os sóbrios alvores da madrugada,
essa hora sem definição
em que o mundo indeciso
abandona a noite e o sono
e se entrega à lassidão da vida.

Contemplo a clara obscuridade
e espero que chegues
do mundo antigo do sonho,
rosa invisível cantada
na memória de cada pétala perdida.

Quando chegas com voz outonal,
olho em silêncio a queda das folhas
e traço uma fronteira de seda
para que o teu corpo ao atravessá-la
se cubra na luz do desejo.

Tens ainda a última palavra,
antes que irrevogável o dia chegue.
Penumbra azul e nevoeiro,
súbita sombra onde arde
a deslumbrada voz do coração.

2 comentários:

  1. Quem disse que as madrugadas só anunciam a partida?!
    Um belo poema do reencontro ao alvorecer.

    Abraço

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