sábado, 15 de junho de 2013

A missão da trupe

Jacopo Robusti - La violencia de Tarquinio

Foram para a política quando deviam ter ido para patrões no Bangladesh. Ali não precisariam de saber fazer política - isto é, prevenir, ceder aqui e influenciar ali, ser maquiavéis e discutir... -, só precisavam de distribuir umas lamparinas em caso de reticências. Mas não, foram para a política, a arte do compromisso. (Ferreira Fernandes, Diário de Notícias)

Apesar da crónica de Ferreira Fernandes ser interessante, falha num aspecto essencial. Pensa a política, na tradição democrática e republicana, como arte da prevenção, da cedência, do diálogo. O problema é que isso acabou. Há diálogo quando as partes reconhecem que há interesses diferentes em confronto e que é legítimo dirimir esses interesses segundo regras previamente acordadas. Hoje em dia só há direitos para os mais fortes, só há direitos para os que podem. Os outros, os mais frágeis, quase todos nós, deixaram de ter direitos e deixaram de ter direito a que respeitem os próprios compromissos que com eles foram estabelecidos. Por isso, Passos Coelho e a trupe, como lhe chama Ferreira Fernandes, que nos governa não está enganada no governo. Ela está lá mesmo para transformar Portugal num qualquer Bangladesh. Fazê-lo não a faz sentir mal com a sua consciência, pelo contrário. É a sua missão.

6 comentários:

  1. Serventuária dos senhores da selva a trupe, mesmo sendo incompetente, "sabe bem" o que está a fazer ao país.
    Espero que a memória do povo não tenha os lapsos do costume.

    Abraço

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    1. Sim, sabe bem o que anda a fazer e os senhores a quem serve. Quanto à memória, ela é traiçoeira...

      Abraço

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  2. Porém, os que perderam ou estão a perder direitos são milhões e sabem que têm direito a esses direitos...Mais tarde ou mais cedo a História dar-lhes-á razão, mas haverá muita luta ainda...

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    1. Não creio que a História dê razão a quem quer que seja. Ela é muito caprichosa e depende de quem a escreve. Quanto ao conflito, ele é o pai de todas as coisas, como diria o velho e irascível Heraclito de Éfeso.

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  3. A História tem dado sempre razão à Razão. Pode levar tempo, muito tempo, causar muito, muito sofrimento, mas a Razão vence sempre. Ou ao que é razoável.

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    1. A mim falta-me fé nessa crença na vitória da razão. Declaro-me, nesse assunto, agnóstico quase ateu.

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