Giorgio de Chirico - O grande metafísico (1971)
69. Em silêncio, o metafísico poisa sobre a terra
Em silêncio, o metafísico poisa sobre a terra,
traça uma cruz de sombra no chão
e já saudoso olha o largo horizonte,
a fronteira memoriosa que separa
céu e mar, o voo dos pássaros ao anoitecer.
Não pertence à grande pátria dos homens.
O tempo não é a casa onde habita,
nem os anos são feitos de dias ou estações.
O longo meditar sobre o mistério
abriu-lhe a grande porta do vazio eterno.
As pálpebras fecham-se pesadas e graves
e o ar da noite fende-lhe as narinas
como uma lepra mecânica inscrita na pele.
Tudo é imóvel e definitivo,
a violeta cansada, a estrela da noite,
a luz do violino num acorde de eternidade.
O grande amante do tempo suspenso,
sonâmbulo desprovido de sonhos e de sono,
poisa os pés sobre a areia da praia
e um clarão de pedra nasce no fundo do mar.
Belíssimo poema!
ResponderEliminar«...e já saudoso olha o largo horizonte, a fronteira memoriosa que separa céu e mar.»
Se o horizonte está onde estão os nossos olhos, então, esta “imagem” sublime está “para além” do tempo...
Abraço
Muito obrigado, JRD, pela leitura tão benevolente.
EliminarAbraço
Bom mesmo Jorge...
ResponderEliminarMuito obrigado, caro...
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