Alfons Mucha - O abismo (1897-99)
71. São tempos difíceis, disseste
São tempos difíceis, disseste.
A cólera poisou mansa no fundo do coração,
as mãos apertam-se desesperadas e secas,
a cabeça inclinada para a terra,
o sabor a fel a cantar no centro da boca.
Sonhas ainda com dias resplandecentes,
mas o silêncio cobriu o sonho,
e ninguém se recorda do que desejou,
das coisas que um dia foram amadas
ou das promessas com que a vida se enganou.
São tempos difíceis, digo-te eu.
O meu coração já não tem força para odiar,
o corpo mal se equilibra sobre a terra
e tudo aquilo que um dia pensei
foi levado pelo desejo que logo se apagou.
Mais um belo poema.
ResponderEliminarAté eu, que não sou poeta, me interrogo sobre se hei-de mudar de "bons tempos" para "tempos difíceis hein?!"
Abraço
Sim, parece não estarmos em época de "bons tempos". Obrigado, JRD.
EliminarAbraço