Henri Rousseau - The Football Players (1908)
Cansa! Cansa tanto que usei um ponto de exclamação, coisa que, por norma, não faço. Em tempos fui um adepto do futebol, hoje nem tanto. Por vezes, vejo um ou outro jogo, raramente consigo não sentir enfado. Nada pior que os jogos vistos na televisão. A realidade, quase sempre, é cruel, como todas as realidades que se prezam. O grande futebol era aquele que existia antes de a televisão ter entrado pelo campo dentro. O futebol dos relatos na rádio, onde não havia um jogo que fosse mau na voz dos locutores. Ritmo e emoção não faltavam. Por maior que fosse o tédio no campo, o jogo chegava aos meus ouvidos transmutado pela invenção dos homens do microfone. Agora o futebol mostra-se na sua natureza, e o que vemos, muitas vezes, é o tédio puro e simples de um jogo imperfeito, onde a manha e a batota têm uma palavra enorme, onde o objectivo pode ser não ganhar, e alcançado esse objectivo ser-se coroado como genial.
O pior, porém, é a metafísica da bola, a teologia do balneário, a hermenêutica do penalty, a psicologia do golo falhado, a sociologia das tácticas, a história dos encontros entre equipas, ou a aplicação da teoria do caos ao prognóstico dos resultados. Isto para não falar da estatística dos pontapés. Andamos há semanas a ser bombardeados por tanta idiotice que apetece fugir. Não, o pior não é isso. O pior mesmo é este falso patriotismo que os media vendem nestes dias. Quem abrir uma televisão ou desfolhar um jornal convence-se que aquela dúzia de rapazolas que correm atrás da bola tem o poder de nos salvar do sarilho onde estamos metidos ou, caso perca, ainda de nos afundar mais e mais nele. Cansa, repito. Cansa tanta metafísica da bola ou tanta bola metafísica. Já não há paciência.
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