Júlio Pomar - da série Os Tigres
Cala-te! A distância que vai de ti à minha dor pede o silêncio. As
tuas presas são navalhas afiadas, abrem rios de sangue na pele mais dura,
crescem mesmo na hora em que o teu corpo se abre para mim. Cala-te! Para que servem as tuas palavras? Não suporto confissões e a verdade é uma planície
baldia no teu coração. A avidez que tive dos teus seios perdeu a música que a
movia. Resta-me o cheiro feroz e selvagem, o exercício da dor, a libertação do
sangue. Para isso, chegam os teus dentes, punhais cravados no meu peito, o
cântico silencioso das veias dilaceradas sob o império dessa boca.
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